Congresso da ESMO 2021: A reflexão da Prof.ª Doutora Teresa Amaral sobre os principais avanços na área do melanoma

A convite da News Farma, a Prof.ª Doutora Teresa Amaral, oncologista expert em melanoma no Centro Médico Universitário de Tuebingen, comentou os estudos apresentados no congresso da ESMO 2021 que considerou mais relevantes na área do melanoma em contexto neoadjuvante, adjuvante e metastático. Assista ao comentário. Tratamento do melanoma em contexto adjuvante O KEYNOTE-716, foi o estudo destacado pela Prof.ª Doutora Teresa Amaral. Este ensaio clínico aleatorizou (rácio 1:1) doentes com melanoma de estadio IIB e IIC, após ressecção completa, para receberem pembrolizumab ou placebo, no setting adjuvante. “Os primeiros dados deste ensaio eram muito aguardados”, partilhou a especialista, uma vez que se queria saber se o benefício da terapêutica adjuvante, observada em ensaios clínicos prévios com doentes em estadio III, também se estendia a doentes em estadio IIB e IIC. “A terapêutica com pembrolizumab parece beneficiar os doentes em termos de sobrevivência livre de recidiva quando comparada com placebo. Estes benefícios parecem existir em todos os subgrupos pré-definidos, nomeadamente em termos de categoria T, idade, género, raça, ECOG e origem em termos de região geográfica”, detalhou, acrescentando que a ulceração não define o benefício da terapêutica adjuvante: “melanomas T3b e T4a beneficiam mais do que melanomas T4b”. Em termos de segurança, no braço pembrolizumab, os eventos adversos endocrinológicos podem implicar a administração de uma terapêutica de substituição que pode ser prolongada, embora não tenha sido reportada uma diminuição de qualidade de vida em comparação com o braço placebo. A especialista chamou a atenção para o facto de o estudo não ter apresentado dados em relação ao status da mutação BRAF. Na sua perspetiva, será importante recolher dados que possam ajudar a identificar biomarcadores que ajudem a selecionar os doentes para a terapêutica adjuvante, como por exemplo: “a determinação do ctDNA imediatamente após a cirurgia”. Tratamento do melanoma em contexto neoadjuvante Neste contexto, a oncologista selecionou o estudo DONIMI. Este ensaio clínico tem como objectivo avaliar várias terapêuticas em doentes de estadio III, estratificados pela assinatura de IFNγ: Doentes com assinatura elevada de IFNγ recebiam domatinostat + nivolumab ou nivolumab em monoterapia; Doentes com assinatura baixa de IFNγ recebiam domatinostat + nivolumab ou domatimostat + nivolumab + ipilimumab; “Era possível estratificar ou não os doentes de acordo com a assinatura de IFNγ? A resposta é sim […] e os doentes que têm uma assinatura elevada provavelmente não beneficiam de uma terapêutica combinada e podem ser tratados apenas com monoterapia […] mas um aspeto que eu acho que é importante salientar é o facto de este ensaio incluir um reduzido número de doentes, portanto 10 em cada braço, o que significa que devemos ter alguma cautela quando interpretamos estes dados”, elucidou. Tratamento do melanoma em contexto metastático A nível do melanoma metastático, a Prof.ª Doutora Teresa Amaral começou por referir um estudo de fase II que avaliou a combinação tocilizumab (anticorpo monoclonal anti-IL6R) + nivolumab + ipilimumab em doentes com melanoma irressecável. “O objetivo era determinar se o bloqueio de IL-6 diminuía a toxicidade associada à combinação ipi-nivo, sem reduzir ou sem diminuir as respostas e a eficácia terapêutica […] O ensaio respondeu a esta questão e a reposta é sim, é possível diminuir a toxicidade, mantendo a resposta à terapêutica”, informou. Quanto ao update da eficácia do ensaio clínico RELATIVITY-047, que tem como objetivo avaliar a combinação relatlimab (anti-LAG3) + nivolumab (anti-PD-1) versus nivolumab em monoterapia. “O tempo livre de tratamento e a PFS2 parecem ser maiores na combinação do que na monoterapia”, partilhou a oncologista. Outro ensaio de interesse para a Prof.ª Doutora Teresa Amaral é o SECOMBIT. Este ensaio pretende avaliar a melhor sequenciação de terapêutica em doentes com mutação BRAF, randomizando-os por 3 braços: Terapêutica alvo (encorafinib + biminetinib), seguida de imunoterapia (ipilimumab + nivolumab) aquando progressão; imunoterapia (ipilimumab + nivolumab), seguida de terapêutica alvo (encorafinib + biminetinib) aquando progressão; desenho sandwich: “começa com a terapêutica target num período determinado de tempo de acordo com o protocolo, seguida de imunoterapia até progressão e depois, aquando de uma 2.ª progressão, os doentes receberam novamente uma terapêutica target”. Os resultados apresentados no congresso, “nomeadamente PFS2 e OS, demonstram uma tendência para um benefício dos doentes que receberam imunoterapia em 1.ª linha até à progressão seguida de terapêutica target e aqueles que receberam tratamento no braço designado por sandwich”, referiu a especialista, embora ainda se tenha de aguardar para confirmar se há alguma vantagem real ou não. Um estudo desenvolvido pela Prof.ª Doutora Teresa Amaral e apresentado sob a forma de poster no congresso, avaliou a sequenciação imunoterapia seguida de terapêutica alvo aquando progressão e vice-versa, verificou o mesmo benefício em doentes com mutação BRAF para ambas as sequências. Doentes com melanoma e metástases cerebrais Por fim, a especialista mencionou dois ensaios clínicos em doentes com metástases cerebrais e referiu as questões que ficaram em aberto no congresso da ESMO 2021.

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